Quem teve a sorte de estar na praia do Arrombado nesta segunda-feira (21), no município de Luis Correia, presenciou uma cena de encher os olhos: o nascimento de 140 filhotes de tartarugas marinhas. Os ovos começaram a eclodir pouco antes das 17h, deixando o final de tarde na praia ainda mais atrativo. O litoral piauiense é um verdadeiro berçário para duas espécies, a de pente e a tartaruga de couro. Segundo o Instituto Tartarugas do Delta, só em 2018 cerca de 5 mil filhotes já nasceram no Estado.
"No Brasil frequentam cinco espécies de tartarugas, porém, o Piauí é mais frequentado por duas espécies, que é a tartaruga de pente e a de couro. As duas espécies estão na lista crítica de extinção. A gente acompanha o nascimento do ninho e tem uma ideia de quando ele vai eclodir, entre mais ou menos 60 a 70 dias", explica Werlane Magalhães, bióloga e vice-presidente do Instituto Tartarugas do Delta.
O professor Raimundo Junior estava na praia e registrou o momento (vídeo abaixo) em que vários filhotes tiveram seus primeiros contatos com o mar. "Presenciar o nascimento das tartarugas marinhas é um espetáculo belo e interessantíssimo. É uma verdadeira aula de luta pela sobrevivência: quebrar a casca do ovo, sair do buraco, chegar na água, escapar dos predadores. Então, vê aquele nascimento é inspirador, único e exuberante", disse.
As ações para preservar os ninhos são intensas, pois de mil filhotes que nascem, só dois chegam a idade adulta. "Só nessa temporada a gente liberou 5 mil filhotes. Só em 2018. A cada temporada a gente libera uma média de 7 mil filhotes. Ao longo de 10 anos de trabalho já foram liberados 70 mil filhotes. Eles devem voltar daqui a 25 anos. A cada mil, um ou dois atingem a idade adulta. Sendo assim, temos que garantir que área de desova não seja descaracterizada como a construção de prédios, diques, marinas, para que não perturbe o berçário natural", afirma a bióloga.
Além dos predadores naturais, as tartarugas marinhas enfrentam nas praias do Piauí a ação do homem. Ainda é comum no litoral do Estado, o trafego de veículos na faixa de areia. "A circulação de veículos na praia perturba muito os berçários. O nosso litoral possui grande potencial turístico, então a gente vem dialogando com o pessoal do setor, participando de reuniões, para que a gente repense o tipo de turista que a gente quer para a nossa região. Praticar o turismo ecológico e começar a trabalhar medidas e formas de as pessoas aproveitarem o litoral sem ter que colocar carro na praia", alerta Werlane Magalhães, ressaltando que as comunidades locais também contribuem na degradação dos locais de desova.
"Não é só o turista, as comunidades locais andam de moto. O filhote é muito pequeno e não tem como enxergar de um carro ou moto. A gente sempre alerta para a proteção. Praia não é lugar de carro. Temos outros problemas? Temos! Mas esse é fácil de conter", acrescenta. 
De acordo com o Instituto Tartarugas do Delta, há ocorrências destes animais em toda a faixa de litoral do Piauí, no entanto, as praias do Arrombado, Coqueiro - ambas em Luís Correia - e Pedra do Sal, em Parnaíba, registram maior aparição.
O projeto Tartarugas do Delta iniciou em 2006 coms ações de conservação das tartarugas marinhas no litoral piauiense. Em 2013 o Instituto participou na seleção pública do Programa Petrobras Socioambiental, e foi contemplado no edital com o patrocínio da Petrobras, para execução do projeto Biodiversidade Marinha do Delta – BIOMADE em parceria com o SESC Piauí, projeto TAMAR e ICMbio. Como resultado importante foram marcadas as primeiras fêmeas de tartarugas marinhas no litoral piauiense e identificadas áreas prioritárias para conservação de tartarugas marinhas, boto-cinza e cavalo-marinho.
Em 2016 a tartaruga marinha foi reconhecida com Patrimônio Natural dos municípios de Parnaíba e Luís Correia e reconhecida como patrimônio do Estado juntamente com cavalo-marinho e peixe-boi.

Hérlon Moraes/Cidade Verde