'Só lembro de uma pessoa' diz vítima de estupro coletivo em Castelo do PI

'Sou muito agradecida e feliz por estar viva', diz vítima de violência (Foto: Fernando Brito/G1)

A jovem de 18 anos não vive mais na cidade natal e tenta retomar a rotina.
Garota teve traumatismo craniano e chegou a passar 36 dias internada.
'Sou muito agradecida e feliz por estar viva', diz vítima de violência (Foto: Fernando Brito/G1)
Por conta do tempo em que ficou internada e do tratamento neurológico, Renata passou a receber o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) no valor de um salário mínimo. O benefício é concedido às pessoas com deficiência que comprovam não ter meios de se sustentar.
Conforme a tia, na próxima perícia a garota deve deixar de receber o auxílio porque está bem de saúde e não apresentou sequelas mais graves. O dinheiro vem sendo usado nas despesas com transporte e alimentação.
Ainda de acordo com a tia de Renata, na época em que o fato aconteceu, um grupo de deputados chegou a visitar a garota e prometer a construção de um quarto para ela na casa dos familiares em Teresina. “Pediram pra eu ver o valor e fui em três lojas diferentes pegar orçamento, mas até hoje nada”, falou a tia.
Renata demonstra o carinho pela tia, com quem
mora em Teresina (Foto: Fernando Brito/G1)
O G1 procurou a Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi). A instituição informou que uma comissão de deputados visitou, voluntariamente e em solidariedade, as vítimas. A Alepi disse ainda que essa manifestação foi individual e nada tem a ver com a instituição. "Na oportunidade, foi colocado para as famílias que a Casa estaria disposta a intermediar qualquer necessidade ou assistência que fosse apontada com os órgãos competentes", diz a nota enviada.
A Secretária de Estado da Assistência Social (Sasc) diz que fez a articulação entre órgãos do poder público estadual e municipal para possibilitar o acesso, principalmente, às politicas públicas de saúde, educação, assistência social e habitação.
A Vice-Governadoria disse que desde o ocorrido vem prestando assistência às vítimas com apoio de uma equipe multiprofissional. De acordo com a chefe do gabinete militar da vice-governadoria, major Cristina Alves, até hoje o órgão auxilia na prestação de atendimento psicológico e deslocamento para as consultas.
Renata continua sendo acompanhada por uma psicóloga e assistente social do governo. Tirando os lapsos de memória que a garota tem vez ou outra, ela não manifestou nenhum problema mais grave de saúde. “Tive dificuldade no início das aulas porque não consegui lembrar mais de algumas matérias, mas a psicóloga disse que isso é normal. Algumas matérias como matemática, física são mais difíceis e faço um esforço maior”, conta Renata.
Renata diz que está focada nos estudos e irá fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentar uma vaga no curso de medicina veterinária. As carreiras de nutricionista e assistente social também estão nos planos, caso ela não tenha êxito a sua primeira opção.
A vida na capital e planos para o futuro
Distante 190 km dos pais e amigos de infância, Renata viu toda sua rotina ser modificada. Se antes, em Castelo ela ia para a escola a pé, em Teresina ela teve que aprender a pegar ônibus e se acostumar com o corre-corre e trânsito agitado da capital.
Garota usará branco para pagar promessa religiosa feita por um familiar (Foto: Fernando Brito/G1)
Ainda no ano passado, quando deixou o hospital, a psicóloga sugeriu que ela voltasse às aulas e, mesmo com certo receio, Renata concordou e retomou os estudos em Teresina. “Tive muito medo de não me adaptar só que depois que voltei, vi, já agora em janeiro, que foi muito bom conhecer pessoas novas e me dá uma vontade de lutar cada vez mais pelo o que eu quero: me formar”, disse.
Renata também pensa em formar família e diz ter encontrado uma pessoa que tem lhe apoiado e lhe dado carinho. “Eu tenho essa pessoa hoje comigo, me dando força para estudar. Primeiro estudar, não que o namoro impeça. Estou construindo sonhos e as coisas vão acontecendo aos poucos”, falou.
Sobre voltar a morar em Castelo do Piauí, Renata conta que essa possibilidade não está em seus planos e quer, logo que possível, ter o seu próprio cantinho. As visitas à Castelo acontecem em alguns fins de semana ou feriado e ela segue direto para a casa dos pais na zona rural.
“Não gosto mais de ir lá, é estranho. Quando vou, passo direto pro interior, pra casa dos meus pais".
As outras duas garotas que sobreviveram ao crime também moram em Teresina e estão estudando para concluir o ensino médio e prestar o Enem.
Acusados pelo crime
O Ministério Público Estadual e a polícia apontaram Adão José da Silva Sousa e outros quatro adolescentes como autores da série de atrocidades. O G1 ouviu os jovens com exclusividade.Confira aqui a reportagem.
Foram imputados individualmente a cada um dos jovens os atos infracionais equivalentes aos seguintes crimes: prática de quatro estupros, três tentativas de homicídio e dois homicídios (a morte de Daniely, uma das vítimas do estupro, e de Gleison). O prazo para cumprimento da medida é de três anos, podendo ser estendido, já que os menores serão avaliados a cada seis meses. O processo contra Adão ainda não foi julgado.
Escola onde as meninas estudavam promoveu uma série de atividades (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Esforços para esquecer
Desde que o crime ocorreu em Castelo do Piauí, escolas e demais instituições têm realizado diversas ações voltadas ao fortalecimento de proteção às crianças e adolescentes.
As atividades são promovidas pela Prefeitura Municipal de Castelo do Piauí através da Secretaria Municipal de Assistência Social (Smas), e contam a participação de diversos setores da administração municipal e sociedade civil organizada, como a Associação da Juventude de Castelo do Piauí (Ajuca), Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Durante toda a semana, uma vasta programação foi realizada em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração de Crianças e Adolescentes, na quarta-feira (18)
“Todos os nossos esforços têm sido no sentido de alertar e sensibilizar a sociedade. Estamos tentando desmistificar essa imagem negativa da cidade. O mais importante é conscientizar essas crianças e esses adolescentes dos seus direitos e garantias e mostrar quem eles devem procurar”, falou a psicóloga Enilda Alves.É a primeira vez que os meninos falam com a imprensa desde o fato. O acesso aos menores, recolhidos no Centro Educacional Masculino (CEM), em Teresina, foi autorizado pelo juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e da Juventude.
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