Não vai ser fácil a Câmara aprovar a mudança da data da eleição tão fácil e de forma tão rápida como se deu no Senado, que já deu o seu aval, em dois turnos, num único dia de votação, para o primeiro turno em 15 de novembro e o segundo turno em 29 de novembro. Com raríssimas exceções, os senadores fizeram o jogo do presidente da Casa, David Alcolumbre (DEM-AP), que agiu para agradar ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luiz Roberto Barroso, que também continua batendo ponto no Supremo Tribunal Federal.
Pressionado por prefeitos, o bloco conhecido como Centrão já anunciou que vai barrar o adiamento. O deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), vice-presidente da Câmara e um dos principais líderes do Centrão, já avisou ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) que não dará os votos necessários e que tem o aval do presidente Jair Bolsonaro nessa articulação. O discurso oficial dos parlamentares contrários à mudança é que nada garante que postergar o julgamento das urnas em 42 dias fará com que a pandemia seja controlada nesse período.
Na prática, porém, a resistência tem outro motivo: muitos calculam que jogar as eleições para 15 de novembro, Dia da Proclamação da República, beneficia a oposição. Prefeitos argumentam que adiar a corrida eleitoral favorece os adversários porque dá mais tempo para que candidatos rivais se organizem e façam campanha, ainda que de forma virtual. A avaliação é a de que, como a pandemia dificulta o debate político, quem já está no cargo leva vantagem. Partidos como Progressistas e Republicanos, integrantes do Centrão, já se manifestaram contra a nova data das disputas municipais e o PL também tende a seguir esse caminho.
Diante do impasse, o DEM está dividido e o MDB liberou a bancada para votar como bem entender. O MDB é o partido que filiou o apresentador José Luiz Datena, que, pelo atual calendário, terá até terça-feira para anunciar se concorrerá ou não à sucessão do prefeito Bruno Covas (PSDB) ou se será vice na chapa do tucano. A lei obriga que pré-candidatos apresentadores de rádio e TV se afastem dos programas até o próximo dia 30. Até agora, Datena vem dando sinais de que não entrará no páreo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiu dificuldades para o adiamento das eleições. “Não há consenso. A única certeza é que a gente precisa dialogar mais sobre isso e espero que a gente consiga organizar essa votação”, disse. “Precisamos manter a data das eleições municipais para podermos avançar o mais rápido possível na pauta das reformas. Ao postergar as eleições, fatalmente o Congresso demorará mais para atacar sobretudo os temas econômicos”, escreveu no Twitter o deputado Marcos Pereira (SP), que comanda o Republicanos.
Prefeitos reagem – O Centrão dá as cartas do poder na Casa porque controla aproximadamente 200 dos 513 votos. Para que o adiamento das disputas seja aprovado é necessário o apoio de 308 deputados, em duas votações. Sem o aval do Centrão, no entanto, a proposta corre o risco de ser derrubada. Maia ainda não marcou a sessão virtual para apreciação do texto. Para Jonas Donizete, presidente da Frente Nacional de Prefeitos, o assunto é muito polêmico. “A entidade não tem uma posição fechada porque os prefeitos estão muito divididos. Quem vai para a reeleição é a favor de manter a data de 4 de outubro. Só esperamos que a Câmara decida rapidamente”, afirmou Donizete, que é prefeito de Campinas e filiado ao PSB.(Blog do Magno Martins)